Direto do Blog do Lédio Carmona. Vale a pena conferir esse programa.
Lúcio de Castro
SporTV Repórter

Como também parece achar normal que, no coração do deserto, no pedaço mais inóspito do mais inóspito pedaço do planeta, viva um povo em exílio: os Saharauis.
O enorme mistério que se perde sem pista naquelas areias é tentar descobrir como mais de dois mil quilômetros de muro a isolar um povo pode seguir sem ser conhecido pelo mundo. Sem a badalação de seus irmãos mais ricos, pedaços de concreto que isolam palestinos, mexicanos ou o agora pop falecido muro de Berlim. Sobre o muro que isola os saharauis, nenhuma palavra. Mais esquisito mesmo, só a existência, em pleno século XXI, de um povo esquecido pelo mundo.
A tragédia saharaui começou em 1975. Em um de seus últimos atos, o General Franco entregou o território conhecido como Saara Ocidental, ou Saara Espanhol, ao Marrocos e a Mauritânia, enquanto as antigas colônias europeias na África conquistavam independência. Restou a guerra. Depois de 15 anos, bombardeados por napalm e artefatos de fósforo, restou o exílio na Argélia.
Em quatro acampamentos de refugiados no meio de uma parte do Saara sem água ou qualquer possibilidade de agricultura, os saharauis vivem o exílio, e aguardam há mais de três décadas a hora de voltar pro seu pedaço de terra e o reconhecimento como nação.
Nos anos 80, diante do absoluto desprezo para sua causa, os saharauis resolveram transformar o esporte em prioridade. Com a criação de um Ministério da Juventude e do Esporte, esperam formar atletas, que levem sua bandeira ao mundo, e garanta alguma atenção. Em documento, afirmam que o “esporte é estratégico como canal de representação do país no panorama internacional”.
Atletas saharauis comecem a despontar. Como Mohamed Katari, corredor saharaui de sucesso na Espanha. Ainda muito pouco para romper um muro ainda mais vergonhoso do que o construído no deserto: o do silêncio.
Um silêncio nada inocente. Do outro lado do muro, 200 mil pessoas seguem padecendo como poucos povos na história da humanidade. Quarenta e cinco por cento das mulheres saharauis tem suas gestações interrompidas por falta de ferro. O escorbuto é encontrado em 27% da população, e 20% tem cegueira noturna. As tempestades de areia vitimam um alto número de crianças com surdez. Hepatite B e meningite são freqüentes, dando cores fortes a uma tragédia sem eco.
Uma história de esquecidos entre tantos esquecidos, que o mundo prefere ignorar.
Reprise: hoje, 18h30, no SporTV
Nenhum comentário:
Postar um comentário